Continuamos juntos a nossa saga pelas descobertas mais fantásticas da lusofonia. Todos à bordo?
Depois das 8 versões brasileiras do fado Foi Deus (de Amália Rodrigues), das 8 versões portuguesas de músicas brasileiras e dos 9 excelentes duetos luso-brasileiros, a partilha que fazemos hoje vai, com certeza, surpreender a muitos: trago-vos 6 versões de músicas portuguesas cantadas por brasileiros.
Não falamos dessa surpresa sem apresentar o nosso devido lamento. O que muitos sabemos, e já falamos abertamente, é que a música brasileira causa grande impacto em Portugal há várias décadas e mesmo não estando constantemente em voga nem com o mesmo estilo musical (do Pop Rock ao Samba, do Funk ao Sertanejo Universitário), tem se mantido constantemente viva. No sentido oposto a influência não é a mesma. Claro, as razões que explicam esse fenómeno não podem ser afirmadas com certeza, mas não gostaria de passar às canções que nomeiam este artigo sem vos deixar, para reflexão, aquelas que a Aldeia acredita que sejam as mais prováveis:
- No Brasil se ouve mais música nacional do que em Portugal. Quer seja por reais preferências, quer pelo contato tardio com o exterior ou a não aproximação a outras línguas, o brasileiro comum de até há dez anos atrás praticamente só ouvia música brasileira. Em Portugal os níveis de música nacional que passa nas rádios chegou a ser considerado tão baixo que o governo impôs e tem alterado ao longo dos anos as quotas mínimas de música portuguesa nas suas emissões. Acreditamos que esse desvalorização que parte do interior do povo português não ajuda a expandir a sua música para fora.
- Portugal não investiu na promoção de artistas de outro gênero que não o Fado. Fato. Não sabemos exatamente de quem é a missão de levar a música portuguesa pelo Mundo, mas não podemos negar que o pouco que fizeram não levou além-mar mais do que artistas como a grande Amália Rodrigues e agora recentemente Mariza, António Zambujo e Carminho (para a nossa alegria, claro!). Quantos brasileiros conhecem Rui Veloso, Deolinda ou Tiago Bettencourt? Pois.
- A simples palavra lusofonia ainda é desconhecida para grande parte dos brasileiros. Por mais incrível que pareça, ainda é muito fraca a noção brasileira de que a língua que falamos vem realmente de um povo europeu que já a falava antes de nós e que além disso é falada em diversos países africanos. Parece descabido mas acreditem, não é. O brasileiro comum não se interessa pelas outras culturas CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e não procura obter contato com as mesmas. A prova disso está na nossa dificuldade em entender as pronúncias portuguesa e africana e isso obviamente aumenta também o desinteresse musical.
Mas meus caros, não vamos nos prender ao pessimismo. Isto apenas nos deve incentivar a crescer e a conhecer ainda mais.
Convido-vos a ouvirmos juntos estas belas canções portuguesas, a enchermos a nossa vida de lusofonia e dar a conhecer ao máximo de pessoas que conseguirmos que “a [nossa] Pátria é a língua portuguesa”. Venha comigo e siga sempre a Aldeia, combinado?
Em 1984, João Gilberto, um dos pais da Bossa Nova, deu este carinho aos seus espectadores num concerto em Lisboa: cantou o clássico de Amália Rodrigues e arrancou uma reação que até arrepia.
Fafá de Belém, querida e conhecida do público português por ser uma grande apreciadora dessa cultura, gravou em 2007 um tema do cantor Rui Veloso, que tem quase quarenta anos de carreira e é tido como o “pai do Rock Português”. Não é um tema que tenha feito grande sucesso em Portugal e isso impressiona ainda mais: a cantora terá gostado verdadeiramente da música e nós, claro, entendemos perfeitamente!
Em 2007 também, Caetano Veloso foi convidado a fazer parte do filme musical Fados, da autoria do espanhol Carlos Saura, juntamente com muitos outros artistas portugueses, brasileiros e africanos. Não foi a primeira vez que o cantor baiano interpretou este fado de Amália Rodrigues, mas consideramos que este é o momento mais marcante para deixarmos registrado. Um porém: nós da Aldeia não somos apreciadores das imitações de sotaque dentro da língua portuguesa e preferiríamos que Caetano tivesse se mantido fiel ao seu próprio sotaque – consideramos que o cunho pessoal seria maior.
Maria Bethânia deu o seu toque de Midas à belíssima canção portuguesa Quem Me Leva os Meus Fantasmas, do cantautor portuense Pedro Abrunhosa, em 2013. Ele, que é conhecido pelos poemas profundos e a voz grave, não foi minimamente diminuído nesta interpretação. Bethânia incluiu este tema no seu álbum Cartas de Amor e o inicia da forma mais bela: “De que serve ter o mapa se o fim está traçado? / De que serve a terra à vista se o barco está parado? / De que serve ter a chave se a porta está aberta? / De que servem as palavras se a casa está deserta?.”
Em 2014, Pierre Aderne (cantor, compositor e cavaquinista franco-brasileiro, filho de pai português e mãe brasileira) lançou esta versão, também de uma música de Rui Veloso, sobre a qual disse: ‘Já havia gravado o disco todo, em Janeiro fui passar o mês inteiro no Rio de Janeiro, numa das noites sai com a amiga e cantora algarvia Susana Travassos… entre um e outro choppinho no Leblon, Susana disse-me: ” tive uma luz agora! vou cantar uma música para você e tenho certeza que vais grava-la!” (…) quando acabou disse-me : ” trata-se um clássico de Carlos Tê e Rui Veloso, corri no dia seguinte para casa da amiga Celia Vaz (a professora de violão e harmonizadora #1 da bossa nova), harmonizamos em bossa o tema, cheguei de volta a Lisboa (…) mandei para Tê e Veloso, recebi a bênção de ambos e pronto! Não me canso de cantar…’
Possivelmente a maior surpresa de todas ficou para o fim. Primeiramente porque não é um estilo musical que toque muito pelas ruas da Aldeia, e também por não ser o primeiro estilo que nos vem à cabeça quando pensamos em música portuguesa. Gusttavo Lima, ícone do Sertanejo Universitário brasileiro, regravou em 2015 o sucesso do cantor português Leandro, Que Mal te Fiz Eu, de 2008. Com pequenas alterações na letra mas mantendo a essência, a música foi a mais tocada nas rádios brasileiras no mês do seu lançamento.
Deixamos as músicas originais:
Viva a língua portuguesa! Viva!
Fabuloso! Acho genial a divulgação da cultura lusófona. Gostei muito!
Que maravilha, Aldónio! Ficamos muito contentes!
Abraços lusófonos 😉
A interpretação que Maria Bethânia deu à “Balada de Gisberta” de Pedro Abrunhosa é arrepiante!